O Brasil avança para implementar um sistema de armazenamento de energia elétrica de grande escala, um mecanismo essencial para absorver a crescente produção de fontes limpas como a solar e a eólica. O governo federal anuncia um leilão inédito com previsão para o próximo ano, que visa contratar empresas para explorar o serviço de armazenamento por dez anos a partir de 2028.
A medida é uma resposta direta ao desperdício do potencial renovável que atinge o sistema nacional. Atualmente, a capacidade de geração de energia limpa — proveniente de turbinas eólicas e placas solares, que operam em alta produção durante o dia junto às hidrelétricas — é superior à demanda, principalmente em certos horários. O Operador Nacional do Sistema (ONS) é obrigado a ordenar cortes na geração para evitar uma sobrecarga da rede. A estimativa é que, neste ano, cerca de 20% de todo o potencial de geração renovável tenha sido descartado por falta de capacidade de armazenamento.
O novo leilão prevê a instalação de grandes parques de baterias que terão a função de armazenar a eletricidade produzida e liberá-la quando a demanda se elevar.
Armazenamento Equilibra Rede e Reduz Custos
A função principal do sistema de armazenamento é realizar o equilíbrio na rede elétrica, conforme explica Paulo Godoy, diretor de Relações Institucionais de uma empresa do setor. O armazenamento permite que a energia gerada em excesso durante o dia seja distribuída nos horários de pico, como entre as 18h e 21h, período em que as regiões Sul e Sudeste apresentam o maior consumo.
Segundo Mateus Henrique Balan, especialista em energia, o consumidor final é beneficiado com a melhoria na qualidade do fornecimento e uma menor probabilidade de ocorrência de apagões.
O uso de baterias para estabilizar a oferta já é uma realidade em algumas distribuidoras. Em um exemplo prático, uma empresa armazena energia para a concessionária que opera no Litoral Sul de São Paulo. Nos horários de pico, a carga das baterias é liberada para suprir a demanda de 21 cidades.
Potencial de Redução na Conta de Luz
No futuro, o armazenamento pode ter um impacto direto na redução da conta de luz para o consumidor, principalmente ao diminuir a dependência de usinas termelétricas.
O CEO de uma empresa do setor, Giorgio A M de Saint Seigne, afirma que a substituição de geradores a diesel por sistemas de energia solar combinada com baterias já é técnica e economicamente viável, com preços competitivos.
Essa mudança representa um ganho ambiental e financeiro significativo. Talita Porto, diretora técnico-regulatória da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), destaca que a substituição das termelétricas mais poluentes por baterias, entre 2028 e 2030, pode gerar uma redução no Custo de Operação do Sistema de mais de R$ 2 bilhões.
Com a expressiva redução de custos nos últimos anos, o uso de baterias para armazenamento de energia elétrica tem se expandido globalmente, sendo amplamente adotado para diferentes finalidades, como a oferta de serviços ao sistema, o aumento da estabilidade e a melhoria da qualidade do fornecimento de energia.