
Apesar de ser um item indispensável na mesa da maioria dos brasileiros, o pão de cada dia enfrenta uma ameaça silenciosa: a crescente falta de padeiros. Um levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Panificação (ABIP) revela que o país tem atualmente 140 mil vagas abertas para a profissão.
O número representa um aumento alarmante de 1300% no déficit de mão de obra em apenas dez anos, já que em 2015 a carência era de 10 mil profissionais.
O setor, que produz anualmente mais de 2,3 milhões de toneladas de pão, encontra dificuldades para preencher os postos de trabalho e manter a tradição.
Para o padeiro José Bispo Maia, que acumula 40 anos de experiência, a profissão é motivo de orgulho. "Eu tenho o prazer de fazer aquilo que eu gosto, de pegar uma farinha grossa e transformar em uma coisa tão maravilhosa que é o pão de cada dia", afirma.
No entanto, a paixão de veteranos como José não tem sido suficiente para atrair novos talentos. A dificuldade é sentida em todo o país. Segundo Mário Pithon, representante do Sindicato Patronal das Panificadoras na Bahia, a situação é preocupante.
"Você está tendo dificuldade de encontrar quem quer trabalhar. E isso nos deixa numa situação de não saber como vai ser resolvido, porque me parece que a tendência é piorar", analisa Pithon, cuja rede de padarias possui uma defasagem de 14 padeiros.
Salários baixos e falta de inovação afastam jovens
De acordo com especialistas e representantes do setor, a crise na profissão é multifatorial. Os salários considerados pouco atrativos e a intensa carga de trabalho, que muitas vezes começa ainda na madrugada, são os principais motivos que afastam os trabalhadores. Contudo, há também um fator de percepção que pesa sobre a escolha dos mais jovens.
A análise é de Cristiane Thomaz, gerente executiva de trabalho e qualificação. "Há uma percepção de que a confeitaria é uma produção tradicional e pouco inovadora. E isso acaba afetando novos talentos", explica. Para ela, a solução passa por uma revalorização da carreira, mostrando que a panificação pode ser um caminho promissor.
A estratégia para reverter o quadro, segundo Cristiane Thomaz, é investir na formação e mostrar o potencial da área.
"É ampliar a formação, fortalecer parcerias e mostrar para os jovens também que ser padeiro é mais do que uma profissão tradicional. É uma oportunidade real de geração de renda e até de empreender", conclui. O desafio do setor é modernizar a imagem da profissão para garantir que o pão continue presente na mesa dos brasileiros.