O universo do futebol, historicamente marcado por uma forte imagem de masculinidade e competitividade, ainda guarda segredos sobre a vida pessoal de seus atletas. O ex-jogador Adriano Imperador trouxe o tema à tona ao comentar sobre a existência de jogadores gays não assumidos no esporte.
A declaração foi dada durante o Jogo das Estrelas, em Maceió, quando questionado pelo influenciador Rico Melquiades se havia jogadores gays no meio. "Não, tem sim. Só não posso falar o nome, mas tem sim", disse o Imperador. A conversa, embora tenha continuado em tom de brincadeira, gerou grande repercussão nas redes sociais e levantou a discussão sobre o porquê é tão difícil para um atleta do futebol se assumir LGBTQIAPN+.
Por que o silêncio persiste?
A pressão para esconder a orientação sexual ainda é uma realidade no futebol, um ambiente que Leo Dias classifica como "profundamente heteronormativo". Muitos atletas temem perder patrocínios, espaço no clube, o apoio da torcida e até mesmo o respeito no vestiário.
O preconceito, segundo o jornalista, é forte, real e violento. Ele ressalta que ser gay no futebol é arriscar a carreira, o trabalho, a imagem e a segurança, levando a maioria a optar pelo silêncio.
Thiago Pasqualotto expressou seu ceticismo sobre a velocidade da mudança: "Eu queria acreditar que a mudança está acontecendo. Não consigo ser tão otimista". O jornalista destacou que o preconceito vem de várias frentes:
Colegas e vestiário: O jogador enfrentaria o julgamento de seus próprios companheiros.
Torcida: As torcidas são "muito machistas", como demonstram episódios de violência verbal que ocorrem até mesmo em categorias de base.
Momento do anúncio: Muitas revelações ocorrem apenas "no final de carreira, perto da aposentadoria".
O comentarista do Melhor da Tarde destacou que o problema começa na base, nas escolas, onde muitos meninos talentosos deixam de seguir o esporte por medo do "bullying" nas aulas de educação física. "Eu tinha pânico de aula de educação física," completou Leo Dias.
A coragem dos que romperam o silêncio
Apesar do cenário de pressão, alguns atletas encontraram a coragem de se assumir, mesmo que com desabafos sobre o preço pago pelo preconceito.
Richarlison (Brasil): O ex-jogador do São Paulo revelou ser bissexual em um podcast, admitindo que passou a carreira ouvindo insinuações e sofrendo preconceito. "Hoje eu resolvi falar, eu sou bissexual," declarou, na esperança de que isso inspire uma mudança no esporte.
Jake Daniels (Reino Unido): Aos 17 anos, o atacante do Blackpool foi o primeiro jogador britânico em mais de 30 anos a se assumir gay enquanto ainda atuava.
Josh Cavallo (Austrália): Seu vídeo em 2021, onde manifestava o medo de perder espaço, correu o mundo, e ele expressou a esperança de ser uma "luz que faltava para mudar o esporte".
Outros, como Thomas Hitzlsperger, respeitado jogador alemão, só conseguiram se assumir após a aposentadoria, alegando que só assim pôde "respirar em paz".
A fala de Adriano Imperador, embora polêmica, recoloca o tema em debate. A questão que permanece, no entanto, é: quando o esporte mais popular do mundo será um lugar totalmente livre para todos os seus atletas?