
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar do velório de Pepe Mujica, líder e ex-presidente uruguaio. O político, que está em viagem na China, deve chegar em Brasília na noite desta quarta-feira (14) e irá direto ao Uruguai para a despedida do político e amigo.
Pepe Mujica morreu aos 89 anos na terça-feira (13), em decorrência de um câncer. Em Pequim, na China, Lula lamentou a morte do amigo e descreveu Mujica como exemplo de dignidade e coragem.
"O mínimo que a gente tem que fazer é se despedir das pessoas que serviram de referência para a gente com demonstração de dignidade e respeito. Conheço muita gente, muitos presidentes, políticos, mas ninguém se iguala à grandeza da alma de Pepe Mujica", afirmou Lula.
O presidente relembrou o último encontro com Mujica, no ano passado. "Quando eu o visitei no Uruguai, eu tinha certeza que era a última vez que eu o veria com vida, porque ele mesmo dizia que estava no fim, ele nunca escondeu a gravidade de sua doença. Quando eu estive com ele pela última vez, ele disse: 'Lula, estou indo embora'", disse.
Quem foi Pepe Mujica
José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, filho de pai basco e mãe italiana. De família agricultora, conviveu desde cedo com as agruras da vida rural e teve a mãe como o alicerce de sustento da família, já que seu pai faleceu quando o pequeno Pepe tinha apenas quatro anos.
Sua vida política começou como militante do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo guerrilheiro que lutou contra a ditadura militar uruguaia nas décadas de 1960 e 1970. Capturado em 1972, passou quase 13 anos na cadeia, muitos deles em condições desumanas e isolamento, experiência que moldou sua visão sobre a vida e a política.
Das armas à democracia
Com a redemocratização, Mujica foi liberto e anistiado em 1885. Ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), integrado à coalizão de esquerda Frente Ampla. Foi eleito deputado em 1995, senador em 2000 e ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca entre 2005 e 2008, durante o governo de Tabaré Vázquez.
Em 2009, venceu as eleições presidenciais e governou o Uruguai entre 2010 e 2015. Seu mandato foi marcado por políticas progressistas tidas como pioneiras, como a legalização do aborto, do casamento igualitário e da produção e consumo de cannabis. Também promoveu o aumento do salário mínimo, a redução da pobreza e o acesso à moradia.
Os gastos públicos aumentaram, mas os índices de pobreza no país diminuíram de 18% a 9,7%. A taxa de desemprego ficou em torno de 7%.
Mujica teve uma relação bastante próxima com líderes de esquerda da América Latina, como a presidente da Argentina Cristina Kirchner e o presidente Lula. Recentemente, Lula entregou a Mujica a Ordem do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração oferecida pelo chefe de Estado brasileiro.
O mandatário deixou o governo em 2015, uma vez que não podia se candidatar a um segundo mandato consecutivo seguindo a Constituição do Uruguai. Depois da presidência voltou ao Senado. Em 2020, renunciou ao mandato citando a pandemia e sua saúde debilitada como motivos para sua decisão. Apesar disso, continuou ativo politicamente, apoiando candidaturas – como a de Orsi – e participando de debates públicos até seus últimos dias.