
O preço do azeite no mercado brasileiro poderá apresentar uma redução de até 10% nos próximos meses de 2025, segundo projeções do setor, impulsionado pela combinação de dois fatores decisivos: a recuperação significativa da safra global de azeitonas e a recente eliminação da alíquota de 9% do imposto de importação sobre o produto, promovida pelo governo federal.
“A conjunção entre o aumento expressivo da oferta e o corte de impostos cria um cenário promissor para uma redução gradual dos preços no Brasil”, avalia Eduardo Casarin, country manager Brasil & LATAM da Filippo Berio, fabricante de azeites. “No entanto, essa queda não será imediata nem uniforme, já que diversos fatores ainda atuam na formação do preço final”.
De acordo com dados do International Olive Council (IOC), a produção mundial de azeite na safra 2024/25 deve alcançar aproximadamente 3,375 milhões de toneladas, somando todas as categorias. Se essa estimativa se confirmar, representará um aumento de cerca de 32% em relação à safra anterior, da temporada 2023/24, configurando uma das maiores recuperações produtivas da história recente.
“Esse volume adicional deve aliviar a pressão sobre os preços internacionais, que já registraram uma redução significativa nos últimos meses”, explica Casarin. Entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025, o preço internacional do azeite recuou de cerca de US$ 10 mil para US$ 5.500 por tonelada.
Para o Brasil, altamente dependente de importações, o efeito é claro. “O Brasil importa praticamente a totalidade do azeite que consome, e, por isso, essas movimentações no mercado internacional impactam diretamente a nossa realidade”, afirma Casarin. Ele destaca ainda que, nesse contexto de recuperação global, a Itália, tradicional produtora, contribui com cerca de 240 mil toneladas nesta safra — aproximadamente 6,6% da produção mundial —, mantendo-se como uma referência importante em qualidade e tradição. “Embora a Itália não lidere em volume, sua produção segue sendo um parâmetro de excelência e autenticidade, especialmente para o segmento premium, que é altamente valorizado pelos consumidores brasileiros”, acrescenta Casarin.
Entraves logísticos e tributários moderam o impacto
Entre os principais entraves estão os contratos de importação previamente firmados, cujos valores ainda refletem os patamares mais elevados do período anterior à recuperação da safra, e os custos logísticos, que seguem pressionados, sobretudo em função das tarifas de transporte marítimo e seguros.
Além disso, as margens de distribuição e a estrutura tributária nacional — com tributos como ICMS e PIS/COFINS — continuam a influenciar significativamente o preço final ao consumidor brasileiro. “Embora o cenário seja positivo, não se deve esperar uma queda abrupta. O consumidor começará a perceber esse movimento ao longo de 2025, especialmente nas marcas mais dependentes das importações europeias”, explica Casarin.
Apesar do alívio proporcionado pela recuperação produtiva e pelas medidas fiscais, os preços no Brasil ainda não refletem integralmente a redução observada no mercado internacional. Entre os fatores que limitam essa transmissão, Casarin destaca:
- Custos logísticos internacionais elevados;
- A valorização do euro frente ao real, que encarece as importações;
- A manutenção de tributos internos, como ICMS e PIS/COFINS;
- A presença de estoques antigos, adquiridos a preços mais altos, ainda em comercialização;
- A possibilidade de margens de distribuição mais elevadas, sustentadas pela percepção de qualidade superior e pela volatilidade do mercado.
“A análise reforça que, embora os fundamentos globais sejam favoráveis à redução de preços, o mercado brasileiro seguirá condicionado por fatores estruturais que limitam a imediata transmissão dessas quedas ao consumidor”, pontua Casarin. “Estamos diante de um cenário de ajuste progressivo, no qual as condições de oferta melhoram, mas a complexidade da cadeia impede uma rápida repercussão nos preços finais.”