
A “taxa da farinha” criada por milicianos na Zona Oeste já é registrada também em favelas dominadas por traficantes em outras regiões do Rio de Janeiro.
Comerciantes de áreas controladas pela facção Terceiro Comando Puro, na Zona Norte, denunciam que são obrigados a comprar o produto das mãos dos criminosos.
Em Acari, o crime organizado controla a venda da farinha e de várias outras matérias-primas usados por estabelecimentos comerciais e barraquinhas de rua. É o que conta essa testemunha, que teve a voz distorcida e a identidade preservada.
Ela ainda detalha como funciona o fornecimento da farinha pelos traficantes, que criaram uma espécie de "central de abastecimento" da própria comunidade.
A denúncia ainda revela que se os traficantes não possuem a matéria-prima, exigem do comerciante uma nota fiscal informando o valor total gasto fora da favela. Em cima do montante é cobrado um pagamento de uma taxa de 10%.
Policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes prenderam, no ano passado, Leonardo Alves da Silva, o Mustang, apontado como o gerente-geral do tráfico do complexo de favelas do Acari.
Ele foi localizado na Paraíba, onde mesmo a distância continuava ordenando. Mustang é acusado de ser o mandante da morte do inspetor da DRE, Ellery Ramos de Lemos, de 51 anos, em 2018.
No bairro vizinho de Fazenda Botafogo, a cobrança também passou a ser feita. No Complexo da Pedreira, os comerciantes são submetidos a várias taxas, e os moradores são obrigados a pagar 150 reais por apartamento. Os que não pagam podem perder os imóveis em invasões ordenadas pelos criminosos.
Já no Complexo da Maré, esse comerciante explica que chega a pagar R$ 120 por um saco de farinha.
TH da Maré, chefe do Terceiro Comando Puro no conjunto de favelas, foi morto durante operação policial nessa terça feira (13). Segundo a polícia, ele era responsável pela gestão de imóveis e comércio nas favelas da região.
Os moradores eram obrigados a pagar taxas para o tráfico ao comprar ou vender propriedades construídas por eles. Além disso, o comércio em dias de bailes só podia vender produtos definidos pelo tráfico.
A existência da "taxa da farinha" veio à tona após a denúncia de comerciantes da Vila Sapê, em Curicica, no fim de abril.
Na mesma região, em Paciência, um dono de uma padaria chegou a ser assassinado ao se recusar a pagar pelo produto da milícia, que é mais caro e de qualidade inferior.