
O apresentador Fausto Silva, o Faustão, está internado desde o dia 21 de maio deste ano devido a uma infecção bacteriana aguda que se tornou uma sepse, uma infecção generalizada. Segundo novo boletim médico do Hospital Albert Einstein, ele passou por um transplante de fígado nesta quarta-feira (6) e um retransplante renal na quinta-feira (7).
As cirurgias ocorreram após o hospital onde Faustão está internado ser acionado pela Central de Transplantes de São Paulo e "confirmar a compatibilidade dos órgãos doados por um doador único". Ele segue internado para reabilitação clínica e estabilização do quadro de saúde, que segue delicado.
O que é um retransplante?
Faustão passou por um 'retransplante' de rim. O procedimento médico, segundo Luís Edmundo da Fonseca, hepatologista do Hospital Oswaldo Cruz, ocorre quando um mesmo paciente substitui um órgão previamente transplantado. "Pode ocorrer após dias ou semanas após a cirurgia, de forma crônica, quando ocorre meses ou anos depois ou a doença retorna", explica.
Faustão passou por um transplante de rim em 2024, e o corpo do apresentador chegou a rejeitar o órgão. Por isso, passou por tratamentos para conseguir manter o rim novo. Mas, agora em 2025, ele precisou passar pelo retransplante.
Quantos transplantes uma única pessoa pode fazer?
Não há um limite de transplantes que uma única pessoa pode fazer. É o que explica o nefrologista Américo Cuvello Neto, do Hospital Oswaldo Cruz. "A equipe médica avalia a necessidade e a exequibilidade da situação do paciente", pontua.
A sobrevida de uma pessoa que faz muitos transplantes, como Faustão, não é fácil de ser contabilizada. "É complexo dizer, existem muitas variáveis. A sobrevida de quem faz diversos transplantes é semelhante a de quem faz a de um órgão sólido apenas", pontua o nefrologista.
"Em alguns casos, é possível fazer dois ou até três transplantes ao longo da vida, mas cada um traz mais riscos. Por isso, a decisão é sempre muito criteriosa e deve ser feita por uma equipe multidisciplinar", explica Tomaz Crochemore, médico da Werfen.
Os riscos de múltiplos transplantes
Fazer diversos transplantes, como Faustão, pode comprometer a saúde, como explica Américo Cuvello Neto. "O procedimento pode ser tecnicamente mais difícil devido a cirurgias anteriores, além de haver maior risco de infecções e complicações por uso contínuo de imunossupressores e doenças associadas", diz.
Ricardo Ratti, diretor técnico do Hospital Saint Patrick pontua as principais complicações que podem ocorrer, como a rejeição do órgão e infecções, o que podem levar à morte. "As complicações geralmente se manifestam em curto prazo no pós operatório", diz.
Tomaz Crochemore, médico intensivista, aponta que o corpo de um transplantado sofre com intervenções. “O corpo já passou por várias anestesias, cortes, sedativos, antibióticos, remédios fortes e longos períodos de recuperação. Isso acarreta progressivamente por aumentar problemas”, diz.
Faustão já fez quatro transplantes
O transplante de fígado e o retransplante de rim são os últimos procedimentos do tipo que Faustão passou. O apresentador já convivia com a recuperação delicada de dois transplantes, um de coração e outro de rim, que passou em 2023 e 2024.
No primeiro, o de coração, Faustão foi colocado como prioridade na lista de espera pelo órgão devido à gravidado do seu caso. Após o procedimento cirúrgico, o apresentador participou de uma campanha do Ministério da Saúde para explicar e incentivar o transplante de órgãos no País.
"É uma luta de todo mundo. Não tem partido político. É a luta pela vida", afirmou em um vídeo do Setembro Verde. Alguns meses depois, Faustão foi submetido a outro transplante - dessa vez, de rim. A nova cirurgia, realizada em fevereiro de 2024, não teve relação com o primeiro procedimento. O transplante ocorreu em função de um agravamento de uma doença renal crônica.
Apesar da cirurgia ser bem sucedida, o corpo de Faustão passou a rejeitar o novo rim. O apresentador, então, passou por um tratamento intensivo para que seu corpo aceitasse o novo órgão. O processo deu resultado e o órgão foi aceito, mas ele precisou passar pelo retransplante agora, em 2025.
Como funciona a fila de transplantes do SUS?
O Brasil tem o maior sistema público de transplante de órgãos de todo mundo e é o segundo país maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A estrutura é gerenciada pelo Ministério da Saúde, que garante que 90% das cirurgias sejam feitas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Tal gerenciamento integra as 27 centrais estaduais do país.
Segundo o Ministério da Saúde, hoje, há 617 hospitais e 1.495 equipes autorizados a realizarem transplantes no Brasil. Uma delas é liderada pelo médico Lúcio Pacheco, especialista em transplante de fígado. As etapas para um transplante acontecer são as seguintes:
- Paciente é incluído na lista nacional de transplantes pelo médico autorizado;
- Acompanhamento da posição na fila pelos canais oficiais do governo e de São Paulo, caso o paciente seja do estado;
- Passar pelo procedimento caso haja o órgão compatível e a posição na fila seja favorável;
Não é possível estimar o tempo em que o processo de transplante ocorra, justamente pelos fatores de prioridade e compatibilização de órgão e paciente.
Faustão não pode furar a fila de transplantes
A fila é a mesma para todos, independente de fama ou poder monetário. Segundo o médico Ricardo Ratti, a fila de transplantes, organizada pelo SUS, funciona "com base em critérios técnicos e de maior risco".
- Existe um sistema único informatizado dos pacientes que precisam de órgãos que vale para o Brasil inteiro;
- Não existe como interferir na central de transplantes;
- Várias regras definem a fila do SUS. Um dele é o tipo sanguíneo;
- Apenas pessoas com sangue B ou AB podem receber órgão de um doador com tipo B, por exemplo;
- Outros dados, como tamanho do órgão, também precisam ser considerados. Para exemplificar: uma pessoa de 50 quilos não poderia receber o coração de alguém com 30 quilos a mais.
Fila de transplantes pode diminuir com conscientização
O tempo de espera por um órgão pode diminuir de acordo com o aumento de doações de órgãos. O Ministério da Saúde afirma que é importante identificar e notificar óbitos, principalmente de morte cerebral, em que muitos órgãos ainda são funcionais.
Profissionais de saúde são preparados para conscientizar a população sobre o processo de doação e transplante, fazendo com que estes últimos autorizem a doação, no caso da morte de entes queridos.
Podem ser doados rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões. Caso queira ser doador de órgãos, o primeiro a se fazer é avisar a família da vontade, já que a doação é realizada após autorização familiar.
Não é preciso registrar a intenção de doar órgãos em cartórios ou informar em documentos o desejo de doar. Só é inviabilizado o transplante caso o paciente tenha doenças crônicas como diabetes, infecções ou tenha usado drogas injetáveis, por isso, os médicos realizam uma entrevista familiar para a equipe médica avaliar riscos para garantir a segurança de receptores.